Francisco Varela sobre a fragilidade do eu

Francisco Varela sobre a fragilidade do eu
Francisco Varela e Amy Cohen Varela (Roshi Joan Halifax mostrou essa foto em uma conversa sobre luto no Simpósio Varela)

A life of wisdom is to be constantly engaged in that letting go, and letting the virtuality or the fragility of the self manifest itself.

Francisco Varela

No fim de semana passado, aconteceu o Varela International Symposium, com organização do Upaya Zen Center e do Mind&Life Europe, dessa vez sobre “Uncertainty and emergence in self and society”. É um encontro de mentes brilhantes: Roshi Joan Halifax, Evan Thompson, John Dunne, Richard Davidson… Em um dos encontros ouvi essa frase maravilhosa do Francisco Varela e logo fui atrás do trecho maior. Segue uma tradução não oficial:

Otto Scharmer: Então quando você diz "virtual", você quer dizer que não há um eu central, que o eu não tem substância, mas ainda assim é real.

Francisco Varela: Certo. É real no sentido de que pode enfrentar com eficácia o mundo com o qual está lidando. Mas essa relação está constantemente se atualizando e se renovando, submetida a todo tipo de mudança, tanto endógena quanto exógena. Portanto, a virtualidade não é apenas a ausência de uma identidade central; também tem aquele tipo de flutuação frágil de ir e vir, que é onde acontece o soltar. Soltar é um gesto interessante, porque na verdade é quase como invocar a virtualidade do eu, colocando-a espontaneamente em cima da mesa.

Normalmente é a vida que nos faz soltar. Você sabe, nos casos extremos de doença e perigo, ou em uma decepção amorosa, aquilo nos força ao gesto de deixar ser como é, de não segurar [letting it be, letting it go]. É interessante como os seres humanos conseguem mobilizar essa capacidade o tempo todo. Para mim, isso aponta para uma vida mais completa ou boa. O que é ter uma boa vida?

Uma vida de sabedoria é estar constantemente engajado nesse soltar, e deixar a virtualidade ou a fragilidade do eu se manifestar.

Quando você está com alguém que realmente tem essa capacidade em um nível totalmente desenvolvido, isso afeta você. Quando encontramos esse tipo de pessoa, fica claro, porque todo o processo não é individual, não é privado, e você entra nesse tipo de ressonância. Você relaxa - há algo muito agradável nisso. Há uma alegria nesse tipo de vida; essa é a boa vida, eu diria.

Aqui está a conversa completa entre Otto Scharmer e Francisco Varela: “Three Gestures of Becoming Aware” (Paris, janeiro de 2000).

Se tiver interesse, ainda é possível se inscrever e ver todas as gravações do Simpósio Varela (houve tradução apenas para o espanhol).