Pessoal, é uma alegria participar um pouquinho da vida de vocês!
Índice:
1) Calma: como soltar e descobrir uma estabilidade não condicionada
2) Conexão: como praticar compaixão nas relações
3) Abertura: como atravessar experiências de crise e incerteza
4) Apreciação: como reconhecer riqueza por todo lado
5) Imaginação: como desbloquear os sonhos e ser mais visionária
5) Imaginação: como desbloquear os sonhos e ser mais visionária
“Dizer não às más ideias e aos maus atores simplesmente não basta. O mais firme dos nãos tem de ser acompanhado por um sim ousado e visionário — um plano para o futuro que seja crível e atraente o suficiente para que um grande número de pessoas se movimente para vê-lo realizado.”
—Naomi Klein (no livro “Não basta dizer não”)
Para preparar nosso próximo encontro, algumas leituras:
Random kindness and senseless acts of beauty (esse livro é uma obra-prima e dá para você ler inteiro com tradução leiga minha mesmo aqui).
Texto excelente de Bruno Latour (especialmente pelas perguntas ao fim): “Imaginar gestos que barrem o retorno da produção pré-crise”.
Entrevista com o grande linguista George Lakoff sobre o problema em criticar reativamente em vez de afirmar e propor.
E esse trechinho (que traduzi de modo amador) da introdução do livro “The World Could Be Otherwise“, que sai em breve aqui no Brasil:
“A imaginação é poderosa. É essencial para a nossa humanidade. […] A imaginação não é uma fuga da realidade. A imaginação aprofunda e enriquece a realidade, adicionando textura, perspectiva, dimensão, sentimento e possibilidade. A verdade é que tudo o que é criativo e enobrecedor em nós se origina na imaginação. Sem imaginação, a realidade é rasa demais, factual demais, sem gosto e sem calor. Para ir além do possível, até o impossível, precisamos imaginá-lo.
O século 21 é ocupado e bruto. Para as pessoas privilegiadas com carreiras demandantes, vidas sociais, famílias e miríades de interesses, a vida é melhor do que nunca. Mas é também, talvez pelo mesmo motivo, mais difícil, mais estressante e mais exigente. As possibilidades para o crescimento e para a realização são confusas e atordoantes; a pessoa precisa ser mais, saber mais, vivenciar mais, se divertir mais — tudo isso num ritmo cada vez mais acelerado. Perdemos o fôlego tentando acompanhar.
Para a maioria das pessoas, que não desfruta dessas grandes expectativas, uma vida digna parece mais distante do que nunca. Cerca de 10% da população é dona de 90% da riqueza, deixando os outros 90% lutando para sobreviver. Para a vasta maioria das pessoas, a luta diária de sobrevivência em condições sociais e econômicas cada vez mais desafiadoras é implacável. Mais e mais pessoas simplesmente não conseguem dar conta.
Privilegiados ou não, todos estamos cientes do mundo para além de nossos lares por meio da da (atualmente onipresente) mídia, que se tornou nosso sistema nervoso coletivo, beliscando nossa atenção com constantes solavancos de informações verdadeiras e falsas sobre problemas políticos, econômicos, sociais e do meio ambiente. Isso se tornou a substância das nossas mentes e conversações. O que o futuro trará? Como o mundo será para nossos filhos e netas? Haverá ainda um mundo? O pavor preenche o ar. Às vezes o sentimos; na maioria do tempo não nos deixamos sentir. É muita coisa. O que realmente podemos fazer sobre isso?
Estou convencido de que o mundo pode ser, e realmente é, de outro modo — que as possibilidades não precisam ser, e não são, limitadas ao tangível, ao conhecido, ao negociável, aos dados que estamos constantemente coletando de praticamente tudo que é mensurável. Os dados nos dão a ilusão de que conhecemos o mundo. Mas o mundo é mais do que conhecemos.
A imaginação não mede, concebe ou instrumentaliza. Não define ou manipula. Ao contrário, a sua natureza é abrir, encantar, se deleitar, se espantar, se comover, inspirar. Ela se estende sem limites. Ela salta do conhecido para o desconhecido, se elevando para além dos fatos até visões e potências. Ela deixa mais leve o pesado e circunscrito mundo no qual achamos que vivemos. Ela brinca nas profundezas, onde o coração e o amor dominam.”
—Norman Fischer
4) Apreciação: como reconhecer riqueza por todo lado
Dois vídeos sobre apreciação:
Meditações guiadas:
Um pouco do que citei:
- Entrevista comigo sobre paciência no trabalho
- Filme Straight story, de David Lynch com trilha de Angelo Badalamenti
- Texto de Joan Halifax sobre esperança sábia além de otimismo e pessimismo
- Sobre interdependência e como cada ação conta, a história do paciente n. 31 na Coreia do Sul
- Conversa com Ailton Krenak sobre como viver é desfrutar:
3) Abertura: como atravessar experiências de crise e incerteza
“Para que as coisas possam se revelar a nós, precisamos estar prontos para abandonar nossas visões sobre elas.”
—Thich Nhat Hanh
“Se você está preso em seus conceitos, você não tem muitas escolhas em como se relacionar com o mundo.”
—Elizabeth Mattis Namgyel
Em nosso último encontro, falamos sobre os dois extremos: negação e exagero. Ambos acontecem porque tentamos congelar experiências dinâmicas, então especialmente agora é hora de afrouxar nossas conclusões e olhar menos para o mapa e mais para o território. Isso não significa ser indeciso, mas agir e se manter aberto, em constante comunicação com a complexidade e a multidimensionalidade do que chamamos de “pandemia de Covid-19”, “mundo”, “situação” ou até mesmo “pessoa”.
Isso implica em uma atitude bem prática: ao mesmo tempo em que nos entristecemos com o aumento de casos no Brasil, nos alegramos com zero novos casos em Wuhan, na China. Essa capacidade de acomodar diferentes emoções e realidades é a mente espaçosa da sabedoria.
Para começar a abrir nossa visão, sugeri duas práticas: uma, apenas um experimento, é fazer uma lista de teorias que você mantém sobre a realidade. Se for honesto, você talvez escreva “Pessoas nunca devem trair, morrer, adoecer…” ou “Existe algo que não seja impermanente”. Isso vai evidenciar o quanto sustentamos visões que não dão conta da realidade. Depois de fazer essa lista, apenas sorria para as suas teorias, sabendo que a realidade não está nem aí para elas.
Para localizar nossas teorias, podemos lembrar daquilo que nos perturba e desequilibra. O que já teve, tem ou teria o poder de nos perturbar? Ao encontrar essa situação, descreva agora as regras do jogo que você joga para que essa situação não surja. Eis sua teoria sobre como a vida deveria ser!
Por exemplo, se você se perturba quando seu marido move o sofá muito para a direita, você tem a teoria de onde é o lugar certo do sofá. Nós não sofremos porque alguém moveu o sofá, nós não sofremos com a localização do sofá, nós sofremos de fixação às nossas teorias. Sem essa fixação, aquilo não é mais visto como um problema, mas como uma situação trabalhável. Surge flexibilidade, podemos dançar em meio aquilo. De novo, isso não significa aceitação passiva: o melhor modo de transformar algo é justamente agir com liberdade além de nossas opiniões.
Um outro jeito de localizar nossas teorias é pela pergunta “O que sempre deveria acontecer? E o que nunca deveria acontecer?”. Se formos bem precisos e honestos, vamos descobrir teorias desse tipo: “Ela sempre precisa estar com uma cara boa, cara fechada não é uma opção”; “Se você acreditar, o universo conspira e tudo dá certo…” É como se estivéssemos descrevendo em quais jogos transformamos a vida ou os limites da nossa bolha, ou seja, o que nos impede de reconhecer o espaço amplo.
Vamos nos espantar com a quantidade de opiniões, teses, teorias, ideias, julgamentos, convicções, premissas, leis, axiomas, crenças, provérbios, ditados, refrões, achismos, conceitos que estreitam e obscurecem a nossa vida. As teorias são as vozes conceituais de nossas perturbações emocionais. Não precisamos nos livrar dos diversos referenciais conceituais (alguns são bem úteis), apenas soltar a fixação a eles. Quando soltamos a fixação e os descrevemos, eles ficam engraçados. Cada teoria é como se fosse a descrição das regras de um jogo que nunca dá conta da flexibilidade da vida. Com a prática, vamos progressivamente nos movendo pelo espaço que está além dos jogos.
“Quando a nossa mente fica mais calma por meio da prática de meditação, vivenciamos cada vez mais o que está acontecendo, momento a momento. Começamos a ver que a nossa vida — nossa vida verdadeira — é bem mais interessante do que os nossos pensamentos sobre ela.”
—Dzogchen Ponlop Rinpoche
Meditação guiada: recomendo muito a prática “Não faça disso uma coisa”, de Elizabeth Mattis-Namgyel. Traduzimos e estava nessa gravação com a querida Jeanne Pilli. Se preferir, aqui está a original em inglês.
Essa é um meditação analítica, de investigação, diferente do que fizemos até aqui, que são práticas de estabilidade e de compaixão. Para ter um gostinho da atitude interna nessas práticas, veja esse vídeo de apenas 2 minutos:
Referências de aprofundamento sobre como viver com uma visão mais aberta:
Gravei 3 podcasts sobre essa visão aberta: o primeiro sobre compaixão e sentido da vida, o segundo sobre coemergência (cheio de exemplos sobre como as coisas não estão separadas de nossa visão sobre elas) e o terceiro sobre vacuidade (como a realidade está aberta, nunca consolidada e totalmente definida), no qual falei sobre a prática “Não faça disso uma coisa” e a diferença do mapa e do território.
Há três textos meus que talvez sejam úteis para nos dar força nesse momento de pandemia: “Compaixão é a resposta”, “Olhe de novo” e “O poder do caos”.
Recomendo os livros Standing at the edge: finding freedom where courage and fear meet, de Joan Halifax, e o livro Esperança ativa, de Joanna Macy.
Recentemente tivemos a seguinte conversa com Joanna Macy, que recomendo de coração:
E também fiz esses falas sobre como atravessar momentos difíceis:
2) Conexão: como praticar compaixão nas relações
Meditações guiadas:
Quatro qualidades incomensuráveis (amor, compaixão, alegria e equanimidade) em apenas 10 minutos.
Prática bem bonita para sonhar mais abertamente sua felicidade (bondade consigo mesma) em 24 minutos.
Ótimos vídeos sobre compaixão:
1) Calma: como soltar e descobrir uma estabilidade não condicionada
Apresentação do primeiro encontro presencial: PDF ↓
Meditações guiadas (você pode fazer uma em savasana, deitada, e outra sentada, em uma cadeira ou no chão com uma almofada):
Repousar o corpo no estado natural (Alan Wallace chama essa prática de “enfermaria”, pois é muito curativa e restauradora).
(Por favor não repassem nenhum desses áudios. Eles são apenas para apoiar a prática de vocês.)
4 vídeos para contextualizar sua prática de silêncio:
Livros essenciais para o processo inteiro
O ideal seria cada um comprar pelo menos um desses livros e ficar com ele ao redor pelos próximos meses, lendo um pouco por vez.
- Um coração sem medo: por que a compaixão é o segredo da felicidade, de Thupten Jinpa
- Felicidade: a prática do bem-estar, de Matthieu Ricard
- A alegria de viver, de Mingyur Rinpoche